terça-feira, 21 de abril de 2009

Complexo de viralatas X sabe com quem está falando?



Roberto Wagner Lima Nogueira

Estamos formando em nossas universidades, bacharéis em direito com complexo de viralatas de um lado, e de outro, a turma do você sabe com quem está falando? Explicaremos. Uma reflexão sobre o que vem se passando nas salas de aulas de nossas universidades pode ser feita sobre várias perspectivas. Preferimos neste breve espaço, recortar uma singela temática, qual seja, a formação do conhecimento de nossos bacharelandos em direito para o mercado de trabalho.

É patente e salta aos olhos de qualquer professor, por menos atento que seja, que os nossos alunos, em sua grande maioria com singelas exceções, já no primeiro período da universidade, manifestam o interesse de seguirem carreira jurídica pública, em particular, desejam ser juízes, promotores, advogados públicos ou serventuários da justiça. Sem dúvida alguma é uma visão deformada do estudo jurídico, porque precipitada. Não se alegue que por trás destas açodadas opções, está posto exclusivamente o fator econômico, não, a questão é mais complexa.

Mas, infelizmente, tal constatação não para por aí. O pior é que tanto a universidade quanto os professores alimentam este incontrolável desejo dos bacharelandos, de maneira que o conhecimento jurídico com o objetivo de formar um operador do direito culto, denso, socialmente comprometido e com uma visão ampla de mundo e do Direito, escorre como água de chuva. E por que isto ocorre? Porque os estudantes de direito, em sua grande maioria, insista-se, não se vêem como bacharéis e futuros advogados, têm inclusive, pânico de isto ocorrer, todos querem a "segurança" das carreiras públicas. E mais, muitos deles, envergonham-se de afirmar que serão advogados, têm o chamado complexo de viralatas tão bem nomeado pelo escritor Nelson Rodrigues citado por Fernando Calazans. Para Nélson Rodrigues o brasileiro adora imitar e copiar, tal desejo pode ser percebido até no futebol, onde mesmo sendo pentacampeões do mundo, só nos reconhecemos como tais quando somos legitimados por alguém de fora do país. [01]

E quais as conseqüências do complexo de viralatas na formação de nossos estudantes em direito? É que os bacharéis em direito que logram êxitos nos concursos públicos, portanto, se ¨livram¨ do complexo de viralatas, passam a padecer de outro complexo, corolário do primeiro, o complexo do Você sabe com quem está falando, tão bem cunhado pelo antropólogo Roberto DaMatta. Ou seja, jovens operadores do direito, juízes, promotores etc, que se transformam em detentores de um poder, muitas das vezes ainda exercido em pleno limiar do século XXI, de forma arrogante e até mesmo autoritária. E isto ocorre, porque os juízes e promotores que hoje se titularizam, são frutos de uma universidade que os fortificaram naquele complexo original de viralatas que foi ¨superado¨ pela aprovação no concurso público. E os que não logram êxitos nos concursos públicos? Estes são uns fracassados que se mantêm com a carapuça do complexo de viralatas, e padecendo deste complexo, inflam cada vez mais o complexo de ¨superioridade¨ dos que foram aprovados nos concursos. A verdade mais singela é que até mesmo alguns dos professores de Direito na atualidade, quando não são titulares de cargos públicos, se sentem também tocados pelo complexo de viralatas. É a ditadura do cargo público!
Leia mais em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7824

Roberto Wagner Lima Nogueira

mestre em Direito Tributário, professor do Departamento de Direito Público das Universidades Católica de Petrópolis (UCP) , procurador do Município de Areal (RJ), membro do Conselho Científico da Associação Paulista de Direito Tributário (APET)

Um comentário:

Iza Cunha disse...

Adoreiiii o texto,Muito bom.
Boa postagem Nélio. Todos os estudantes de direito deveriam ler, e fazer uma reflexão acerca do artigo. Achei bom demais.